Quero sair...

Disse o senhor de 82 anos com um avião pronto para decolar.

“Tripulação, estamos próximos da decolagem”

O avião já estava taxiando, se movendo devagar pela pista até o ponto de decolagem.

Quando o senhorzinho de cabelo branco, quis tirar o cinto para sair do avião.

Imaginei a cena: ele tentando soltar o cinto e dizendo "quero descer, quero descer…" e ela ali, sem conseguir contê-lo.

Volta ou não volta esse avião?

Se seguíssemos, ele se acalmaria e seguiria viagem normalmente?

E se a gente voltasse? Todos estariam de acordo, com a interrupção da viagem?

Graças ao bom Deus e a senhorinha ao lado dele, nenhuma cena caótica aconteceu.

Quando ele começou a mexer no cinto, ela rapidamente cochichou algo em seu ouvido, tão baixinho que ninguém ouviu.

Ele, por sua vez, cruzou os braços, fez uma cara ranzinza e desistiu de abrir a fivela.

O avião começou a correr e ele olhou pra mim, a aeromoça que estava a sua frente, me dando um sorriso como quem muda de humor a cada minuto.

Ela, firme e forte, coloca a mão no braço dele, como quem acalma o coração, com um toque tão suave quando abraçar as nuvens, o tranquilizou.

Na hora do serviço de bordo…

Curiosa e emocionada, fiz uma pergunta generalista, pois sei que algumas frases diretas podem soar invasivas.

Pensei… com um casal de idosos, era improvável que fossem pai e filha – no máximo, irmãos.

Na hora do serviço, abri as mesinhas, preparei um piquenique, abrindo guardanapos para que, eles espalhassem as bolachas, e perguntei olhando nos olhos dela:

— Qual é o nome de vocês?

Ela disse que se chamava Rita, e ele, Geraldo. Continuei:

— Rita, vocês são um casal?

Ela respondeu:

— Sim, somos casados há 47 anos. E há 15 cuido dele com Alzheimer.

Aquilo confirmou minhas suspeitas.

Ela falou de forma tão amorosa, com uma voz calma e reconfortante, como um café quentinho num dia frio.

Olhei pra ela, com um cisco no olho, e disse:

— Mesmo com os percalços da vida, fiquei feliz em ver um casal "pra vida toda".

Cuidei deles como se fossem meus avós.

Pra ser sincera, tenho um fraco por cabelinhos brancos – me lembram da melhor vó do mundo, a D. Angelita, de quem morro de saudade.

Inclusive, vez ou outra, sonho com ela…

Como queria poder abraçá-la, comer o frango com cuscuz que ela fazia e guardar seu cheirinho em um potinho, se isso fosse possível.

Essa história me fez pensar em duas coisas.

Como nossa lucidez pode ser frágil, por isso, precisamos cuidar da nossa mente enquanto ainda podemos.

E que devemos escolher bem quem estará conosco até o último capítulo de vida.

Dito isso, desejo que você cuide com carinho da sua memória e escolha bem seu parceiro de vida.

Ele estará lá, ainda que você esqueça dele e…

de VOCÊ.

❤️

Um abraço,
L. Santos | Copywriter

Oi, eu sou a Leyne.
Copywriter.

Trago alguns textos pra cá para o Ladeira. Escrevo pra ele, porém, ele ainda não sabe ;)